O amor estava indo mal. Sempre vai, em algum momento. A vida faz questão de cuspir na sua cara quando você acha que encontrou algo sólido. Um dia, vocês riem juntos. No outro, o silêncio pesa como pedra. E então vem a frase, fria e cirúrgica: “Acho que não dá mais.” Você finge que entende, mas por dentro, alguma coisa racha.
O pior não é a dor. O pior é perceber que a pessoa que um dia te olhava como se você fosse tudo agora passa por você como se fosse ninguém. Quando o sentimento começa a desmoronar, os gestos pequenos desaparecem primeiro. O olhar, o toque, o jeito de pronunciar seu nome. E algumas pessoas não vão embora de uma vez – elas vão se afastando devagar, como se esperassem que você notasse sozinho.
A traição dói, mas a indiferença é pior. Porque a traição pelo menos tem raiva, tem vida. A indiferença é o eco de um quarto vazio, uma ausência que se instala no peito e cresce feito mofo. Você se acostuma, aprende a viver com ela, até que um dia percebe que não sente mais nada.
E então vem o fim. Você deleta fotos, bloqueia contatos, tenta apagar mensagens que já decorou. Todo ciclo tem um fim, goste ou não. Alguns terminam com portas batendo, outros com um último “cuide-se” digitado sem emoção. E você ali, na penumbra do quarto, sem saber se chora ou se acende outro cigarro.
Mas o mundo não para. Ele continua girando, indiferente ao seu coração partido. E você aprende a andar de novo, meio manco, mas anda. Porque se tem uma coisa que essa merda toda ensina é que você aguenta. Mesmo que ninguém mais esteja por perto para ver.
Então, você sai. Bebe um pouco mais do que deveria. Beija pessoas cujos nomes não vai lembrar. Os dias passam. A dor vira lembrança, depois um fantasma fraco que só aparece em madrugadas solitárias. E um dia, quando menos espera, alguma coisa dentro de você acorda. Uma fagulha pequena, um lampejo de que talvez ainda valha a pena tentar de novo.
Porque é isso que fazemos. Caímos, nos fodemos, amaldiçoamos o destino e nos erguemos outra vez. Não porque acreditamos que o amor é seguro, mas porque não sabemos viver de outro jeito. Porque mesmo quando tudo se despedaça, há sempre um resto de teimosia dentro da gente que nos obriga a continuar.
E então, um dia, sem aviso, você encontra um olhar que não desvia. Alguém que ri das coisas certas, que toca seu braço sem motivo. No começo, você resiste. Já viu esse filme antes, sabe como termina. Mas o toque é quente, o olhar é firme, e algo em você cede. Devagar, quase sem querer, você se permite sentir outra vez.
E se der errado? Provavelmente vai. Mas e daí? Você já se quebrou antes e continuou. E se tem algo que aprendeu com toda essa merda é que pode acontecer de novo. Mas enquanto não acontece, enquanto o riso é fácil e a companhia boa, você vive. Porque, no fim das contas, é só isso que resta: continuar tentando, mesmo sabendo que pode não durar.
E com o tempo, você percebe que a dor nunca some completamente, só muda de forma. Vira parte do que você é, um fantasma discreto que aparece em músicas antigas, em cheiros esquecidos, em ruas que vocês costumavam andar. Mas você aprende a conviver com isso. Aprende que algumas cicatrizes não doem mais, só lembram que você sobreviveu.
E um dia, sem perceber, você fala o nome dela sem sentir nada. Nenhuma pontada, nenhum aperto. Apenas uma lembrança, uma história que pertence ao passado. Você sorri, pede outro café e segue com a vida. Porque, no fim, é isso que se faz. Seguir. Sempre seguir.